quinta-feira, 7 de junho de 2012

Tudo sobre abacaxi


O abacaxi é o fruto do abacaxizeiro (Ananas comosus) uma planta de origem americana hoje cultivada em todo o mundo. Seu nome científico, assim como um de seus sinônimos populares, ananás, vem de línguas indígenas da América Central e foi incorporado ao tupi, querendo dizer “fruta excelente”, de “a” = “fruta” e “nanás” = “muito boa”. Ananas comosus em latim quer dizer “ananás com gomos”. Pertence à família das bromeliáceas, a mesma das bromélias de floricultura (aquelas plantas em forma de roseta com “flores” coloridas no centro) e dos caraguatás (usados em medicina caseira para cortar a tosse – veja boxe no final).
Estudos genéticos de populações vegetais indicam que o abacaxi é nativo da região Sul do Brasil e do Paraguai, de onde foi se espalhando durante milênios até as florestas da América Central, como as do Panamá. A disseminação do abacate acompanhou a da Mata Atlântica, que cobria todo o litoral do subcontinente centro-sul-americano.
Os primeiros relatos de europeus sobre a fruta datam de 1493, quando marinheiros de Colombo a experimentaram nas ilhas de Guadalupe. Jean de Lery, capelão dos invasores franceses liderados por Nicolau Villegagnon, que se estabeleceram no Rio de Janeiro de 1555 a 1560, também escreveu sobre o abacaxi: “É o fruto mais saboroso da América!”
Nos séculos seguintes, há poucas referências ao fruto, pois as frutas em geral eram desprezadas pelos portugueses, sendo consideradas “comida de índio”. Daí vem a expressão “por fruta”, significando muito raramente. Era comum nas cidades a preferência por frutas trazidas pelos europeus, como a laranja e a manga, enquanto as frutas nativas eram quase sempre desprezadas.
Uma exceção foi a princesa Isabel, que tinha como fruta preferida a banana-de-macaco, fruto de um tipo gigante de costela-de-adão, a Monstera deliciosa, que é saboroso, mas hoje já não mais consumido nem pelos índios.
O abacaxi só volta a ser comentado e elogiado a partir do final do século 19, quando se disseminam suas virtudes medicinais. Antes era considerado maligno e venenoso em regiões da Africa e do Oriente onde não era conhecido e começou a ser introduzido sem êxito por causa da má-fama. Diziam na Africa, por exemplo, que tornava as cobras mais venenosas, o que não passa de lenda sem fundamento.

Tradição milenar


Graças a suas enzimas (bromelina, principalmente, que dissolve muco e moléculas de gordura), vitaminas (A, B e C, principalmente) e oligoelementos (traços de sais minerais como cobre e manganês, veja boxe) o fruto do abacaxi é digestivo, antiinflamatório e antibiótico, alem de cicatrizante de tecidos. O botânico Pio Corrêa fez um detalhado elenco das principais qualidades tradicionalmente atribuídas ao abacaxi. A primeira dessas virtudes está o fato de ser uma fruta digestiva, por causa das enzimas que decompõe os alimentos. Corrêa também explica que o suco e as compressas da fruta têm ação depurativa do sangue, fazendo estourar furúnculos, por afinar os tecidos que os revestem.
O abacaxi também é usado pelos índios há milênios para combater a tosse e curar a dor de garganta, por dissolver muco contaminado, limpando as mucosas. Essa propriedade enzimática de dissolver muco explica a ação do abacaxi como expectorante, nos casos de asma ou bronquite. O consumo dessa fruta também tonifica os intestinos, pois também dissolve muco contaminado em suas mucosas, eliminando micróbios e vermes.
Pio Corrêa explica que os índios usavam ainda o suco do fruto ainda verde como vermífugo e antibiótico das vias urinárias. Esse suco fermentado era indicado para ser tomado pela manhã em jejum para que os guerreiros restaurassem suas forças. Na verdade ele facilita a absorção dos alimentos e sua rápida transformação em energia.
Junto com outros ingredientes que o abacaxi contém em pequenas quantidades, a bromelina é absorvida por nossas vias digestivas e entra no sangue, atuando como antiinflamatória, o que ajuda a desobstruir a circulação em caso de edema ou contusão. Segundo pesquisadores americanos, a bromelina teria a propriedade de quebrar, dentro das artérias, as placas de fibrinas, que são um tipo de proteínas que constituem os coágulos sanguíneos.
Essas propriedades antiinflamatórias são responsáveis pela ação do fruto e de seu suco no tratamento de muitos casos de artrite e reumatismo. É de fato eficaz no combate às dores nas juntas (artrite).

O poder das enzimas

Como os oligoelementos e as vitaminas, as enzimas são substâncias que agem em pequena quantidade e apressam as reações químicas do organismo, rompendo moléculas maiores e facilitando sua decomposição. Sem as enzimas, nós não sobreviveríamos, porque não conseguiríamos digerir os alimentos. Nosso próprio corpo produz enzimas, como a ptialina presente na saliva, que ajuda a fazer o bolo alimentar.
Mas as frutas também são ricas em enzimas, principalmente o abacaxi. Além de quebrarem moléculas complexas, como as das proteínas e das gorduras, as enzimas do abacaxi, principalmente as bromelinas, funcionam como agentes de limpeza do organismo, dissolvendo o muco e as proteínas e as gorduras depositadas no revestimento de mucosas e artérias. A esse muco ou gordura podem estar aderidos micróbios, como bactérias e vírus (que tem suas paredes celulares dissolvidas pelas propriedades proteolíticas da bromelina), e até vermes. A bromelina dissolve esse muco do revestimento das mucosas, facilitando a cicatrização dos tecidos inflamados. É fácil constatar esse poder dissolvente da bromelina despejando suco de abacaxi em gelatina animal, o que a faz derreter.
As bromelinas é usada pela indústria farmacêutica para fazer xaropes e remédios digestivos. Também são usadas na indústria da cerveja, para classificar a qualidade da bebida.
Outras frutas ricas em enzimas são o mamão (o leite branco que sai das cascas é constituído principalmente por papaína, uma enzima que amacia a carne e dissolve até verrugas da pele), as uvas, o abacate, o figo e a banana. Outras plantas que contêm enzimas úteis: gengibre, couve, babosa. Também possuem enzimas o mel e o azeite de oliva de primeiras extrações.

O que dá o sabor característico ao abacaxi, entretanto, é o ácido que ele contém (87% de acido cítrico e 13% de ácido málico). Essa acidez pode causar inconvenientes em pessoas que estejam em crise de herpes labial, que nessas fases devem evitar o abacaxi. Essa fruta deve ainda ser evitada nas fases agudas de úlcera e gastrite. Também contribui para o sabor ácido do fruto a vitamina C (todos os frutos muito ricos em vitamina C têm sabor ácido porque ela é um tipo de ácido, chamado, aliás, ácido ascórbico).
Curiosamente a vitamina C encontra-se em maior quantidade no fruto quando ele ainda está muito verde e não pode ser consumido por causa do sabor extremamente ácido e de outro componente químico que o deixa amargo e adstringente: o tanino.
É o tanino que vira açúcar quando o fruto amadurece. Conforme ocorre o amadurecimento, o tanino desaparece e o teor de vitamina C diminui, mas mesmo assim continua completamente satisfatório para consumo. Constatou-se, por exemplo, que os abacaxis da Guiné têm teor de vitamina C de 8 mg para cada 100 g de polpa, enquanto que as frutas verdes, 15 dias antes de sua maturação chegam a ter 20 mg de vitamina C.

Aprenda a cultivar

As variedades de abacaxi mais cultivadas comercialmente são a pérola ou pernambuco, que tem forma cônica, polpa amarelo-clara, folhas com espinho, sendo mais doce, a smooth cayenne, que tem forma cilíndrica, folhas quase sem espinhos, polpa amarela, mais ácida, com peso médio de 2 quilos. Há também variedades sem espinhos na coroa, como a perolera, originária da Venezuela e da Colômbia, muito resistente a uma praga chamada fulariose (infecção por fungo que estraga o fruto), e a variedade BGA-6, muito doce, produzida pela Embrapa em Cruz das Almas, Bahia.
Pode ser cultivado a partir da coroa do fruto, ou a partir de mudas que surgem na base da planta.
Os cabos que a unem à base têm de ter mais de 20 centímetros para serem cortados. Deve ser plantado na terra, no jardim ou no pomar, em local bem ensolarado. Precisa de solo rico e adubo orgânico. Reage bem à pulverização foliar.
Floresce quando você quiser.
A planta demora dois anos para ficar adulta, se a muda for retirada da base do caule (escolher a mais vigorosa e com raiz). Se a muda for retirada da coroa do fruto, a planta demora três anos para produzir. Depois que estiver adulta, é possível induzir seu florescimento calculando para que o amadurecimento do fruto aconteça na época seca do ano. Cinco meses antes da época seca, você deve jogar, no fim da tarde, no olho da bromélia adulta, meio litro de uma solução muito diluída de carbureto de cálcio em água (use uma pedra do tamanho de uma bola de bilhar para um tambor de 20 litros de água e tampe, deixando dissolver bem). A planta florescerá em pouco mais de um mês e os frutos estarão maduros cinco ou seis meses depois dessa indução.
O carbureto de cálcio diluído deve ser colocado no centro da roseta do pé do abacaxi no fim da tarde porque os poros das folhas dessa planta só se abrem à noite, permitindo a absorção de substâncias. Se for colocado durante o dia, o carbureto não faz efeito.
A frutificação em época seca traz a vantagem de os frutos não se contaminarem com fungos (fulariose), que proliferam com as chuvas. Lavouras comerciais usam um produto químico chamado Ethrel, que é pulverizado sobre a planta toda.

Atenção, praticantes de musculação: o abacaxi tem todos os aminoácidos!
 

As enzimas do abacaxi são constituídas em parte por aminoácidos. Aliás o abacaxi é uma das frutas mais ricas em aminoácidos que se pode encontrar. É uma verdadeira farmácia. E os praticantes de musculação conhecem a importância dos aminoácidos, pois qualquer professor de academia explica que são eles que ajudam a formar massa muscular.
Aminoácidos são moléculas de carbono que entram na composição das proteínas, as estruturas principais de todas as nossas células, dos neurônios do sistema nervoso até as unhas e cabelos. Muitos aminoácidos são sintetizados pelo nosso próprio corpo e por isso são chamados de não-essenciais, isto é, não é preciso buscá-los nos alimentos, embora os alimentos possam dar uma ajuda: alanina, asparagina, cisteína, glicina, glutamina, histidina, prolina, tirosina, ácido aspártico e ácido glutâmico. Outros, entretanto, precisam ser ingeridos nos alimentos e por isso são chamados de essenciais: arginina, fenilalanina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, serina, treonina, triptofano e valina.
E agora vamos ao abacaxi, que fornece uma lista de aminoácidos de tirar o chapéu: asparagina, glutamina, serina, histidina, glicina, treosina, alanina, arginina, tirosina, cisteína, valina, metionina, triptofano, feninalanina, isoleucina, leucina, lisina e prolina.
Só a sisteína presente no abacaxi, por exemplo, tem ação anti-radicais livres e protege o sangue, o fígado e os rins das toxinas ambientais, alem de neutralizar metais tóxicos, como chumbo, mercúrio e cádmio, absorvidos pela poluição. Você deve ter visto os nomes de algumas dessas substâncias em remédios de farmácia, pois os aminoácidos têm muitos usos nessa indústria. Mas os do abacaxi estão bem dosados para nosso consumo diário e sabemos que a planta os produz melhor que os laboratórios.

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